Mr. Robot (2ª Temporada)


Acordar, arrumar a cama, tomar o café, ir pro trabalho, almoçar, voltar pro trabalho, sair do trabalho, ir pra casa, jantar, dormir novamente. A rotina pode não ser complexa, mas cada operação dessas exige, no mínimo, uma atenção. Podemos pular até alguma das etapas, mas sabemos que nunca vamos nos sentir completos, e isso pode atrapalhar as demais.


Eliott Alderson (interpretado por Rami Malek) parece ter controle total de sua vida, tanto que anota em um caderninho cada um de seus passos durante o dia. Mas, ao longo da temporada, nos é revelado que quem ainda joga os dados é o Mr. Robot (Christian Slater), a sua segunda persona que é a imagem de seu pai falecido, quase um fantasma que o atormenta fazendo com que o jovem hacker nunca se esqueça que a sua maior especialidade é não seguir padrões. Apesar de seu conhecimento técnico, de ter uma saída para quase tudo através da linguagem de programação, o mundo a sua volta não é uma ciência exata. Sua mente não é algo que seja decifrável com uma derivada. 


O controle é uma ilusão. Essa frase ecoa durante toda a segunda temporada de Mr. Robot e parece fazer alusão a própria série de Sam Esmail. O criador em alguns momentos se confunde com seu personagem e parece ter a cartada final para tudo. Mas, como já havia dito, nem tudo é um calculo matemático. Prova disso são os momentos oscilantes que testemunhamos a cada episódio, alguns bem trabalhados e surpreendentes, outros antiquados e cansativos. Isso é tão verdade que os cinco primeiros episódios pareciam ir para um canto quando na verdade não saiam do lugar. Isso até o sexto e o sétimo episódios, quando o verdadeiro truque foi mostrado, mas ainda estávamos ressabiados com o que nos foi mostrado anteriormente. Engraçado este paralelo com o que vimos na série, não acha? 


Esmail também parece não ter tido controle de alguns personagens ao longo dessa temporada. Angela Moss (Portia Doubleday) ainda não mostrou a que veio, mesmo que insinuasse uma suposta inclinação para o “eixo do mal” no final da 1ª temporada. Joanna (Stephanie Corneliusen), apesar de ser uma mulher assustadora e sedutora ao mesmo tempo, foi vitima de uma trama muito mal elaborada, fazendo com que o expectador se pergunte o porquê de tanto tempo de tela destinado a ela. Apesar disso, outros núcleos se mostraram eficientes. Destaque para a novata da série, a agente do FBI Dominique DiPierro (Grace Gummer), uma figura cativante, com personalidade forte quando há outras pessoas por perto, mas emocionalmente frágil em seu apartamento conversando com sua criada/amiga eletrônica. A irmã do Eliott, Darlene (Carly Chaikin) continua sendo a mesma garota desinibida, que não leva desaforo de ninguém, e agora desponta como uma das principais lideranças da fsociety, mesmo que muitas das suas ações não pareçam tão eficientes assim. E, por ultimo, vale a pena frisar o papel da Whiterose (BD Wong) na série. Uma pessoa que caminha entre duas vidas, e em ambas tem que ter o controle absoluto de espaço e do tempo como se sua vida dependesse disso.


Entretanto, muitos desses personagens de traços fortes acabam sendo sacrificados por uma trama que trás detalhes em demasia, sem dar um instante de respiro ao expectador, nem que seja por meio de um alivio cômico ou de uma quebra de expectativa qualquer. Esse acaba sendo um dos principais pontos fracos dessa temporada em relação a sua de estreia, que acabava nos compensando com uma instigante trama. O que nos parece é que Esmail nos mostrou quase toda a sua cartada e ficou sem truques mais interessantes na manga. Queria estar errado no momento em que escrevo essa resenha, mas acredito que as próximas temporadas tendem a ter plot-twists em excesso, e um desfecho estilo deus ex machina por não ter como explicar algumas pontas que ficaram soltas. Enfim, para Sam Esmail, sair da rotina (visto que escreveu e dirigiu todos os episódios da Season 2) talvez não tenha sido a melhor das decisões, e fica claro que o controle até agora parece estar fugindo por entre seus dedos.