Um Lugar Silencioso, ou Quando a Calmaria é Ensurdecedora


Um Lugar Silencioso ou Quando a Calmaria é Ensurdecedora

O silêncio pode ser mais estrondoso que qualquer barulho. Basta apenas um ruído em meio a calmaria pra nos fazer gelar de medo. Isso nos remete a inúmeras vezes que assistimos a um filme de terror durante a noite, no escuro, com tudo tranquilo. 

O silêncio para muitos é a alma do medo. Para o novato diretor John Krasinski (que também atua na película), talvez possa ser também a solução. Em meio a títulos cada vez mais pasteurizados, barulhentos e sem qualquer conteúdo, Um Lugar Silencioso é uma das poucas obras que chegam pra mostrar que o terror pode render boas sacadas, ainda mais nas mãos de quem tem talento pra isso.

Em um futuro muito próximo, a terra é assolada por estranhas criaturas que se movem através de uma audição super aguçada, fazendo qualquer ser vivo que emita som de preza. 

Uma família tenta viver em meio a tudo isso, através da linguagem de sinais (Libras), código morse, porões e paredes que abafam qualquer ruído e, é claro, permanecendo calados. Mas acabam descobrindo que nem sempre se pode manter a calmaria por muito tempo, e terão que enfrentar esses monstros e lutar pela sobrevivência. 


Apesar da abordagem não trazer nada de novo no front (afinal, Alien, O Predador e Tubarão são pioneiros no subgênero de perseguição), o filme trás aqui uma inovação com o uso de uma técnica típica de blockbusters, que são os momentos de tranquilidade que logo são rompidos por gritos e destruição. 

Porém, aqui, o silêncio é mais que uma desculpa para jump scares, ele se torna parte da narrativa. Imagine ter que viver calado e quieto boa parte do tempo nem que isso custasse a sua vida? É no mínimo perturbador. 

A produção também trás como alegorias o valor da família e a importância de sempre se escutar o próximo, pois são quando os protagonistas do longa viram as costas uns pros outros que os problemas aparecem. 


Quanto aos personagens, todos desempenham muito bem seus papéis. Destaque em especial para Emily Blunt que faz um ótimo uso das expressões para abafar as dores que a protagonista está sentindo em cena. Ela também representa o lastro emocional e familiar, pois é dela que vem a vontade de manter a família toda unida, enquanto o pai, interpretado por Krasinski, almeja a sobrevivência. 

No núcleo dos filhos, Millicent Simmonds se destaca como uma jovem que se sente culpada por um drama da família, ao mesmo tempo que a falta de diálogo com os pais a faz também se sentir malquista. Na trama, a sua surdez não é só literal, mas também metafórica. E é quando acontece um dos momentos mais catárticos envolvendo seu pai que ela realmente "escuta". O mais irônico é que o diálogo de conciliação se dá em linguagem de sinais. 

A ameaça aqui lembra muito os monstros do Alien, Tropas Estrelares e Cloverfield, e apesar de não possuir visão, seus ouvidos permitem que possa se locomover em direção a sua presa, como um sonar. Aqui a única forma de escapar é fazer o mínimo de barulho possível. 


Empolgante do início ao fim, Um Lugar Silencioso é uma obra que precisa ser apreciada na maior tela possível, com um sistema de som decente e, acima de tudo, EM SILÊNCIO. Portanto, fuja de sessões lotadas cheias de falastrões ou salas de cinema que fiquem do lado de outras com filmes barulhentos, porque isso pode estragar a sua imersão e, até mesmo, deixar de entender alguns detalhes da trama. 

Ah, e se você assistir e sair frustrado com o resultado final é porque provavelmente não prestou atenção em nada ou não tomou as devidas precauções que ditei acima. Então pare, reflita por um instante e entenda o que acabou de assistir. De preferência, EM SILÊNCIO.
 

P.S.: O filme é tão bom que te assusta até nos pós-créditos quando você vê o nome do Michael Bay na produção. Boa filme!