Showgirls


Quando Showgirls estreou em 1996, a molecada estava doida para ir ao cinema assistir o longa. O motivo era obvio: as cenas de nudez e sexo. Ocorre que nos anos 90 entrar em um filme com censura 18 anos não era tão fácil assim, dependendo da sua idade. Então, muitos só assistiram o filme de fato quando ele passou na TV.


Dirigido pelo diretor Paul Verhoeven (Robocop, Vingador do Futuro e Tropa Estelares), Showgirls conta a história de Nomi Malone (Elizabeth Berkley), uma jovem que se muda para Las Vegas e acaba trabalhando em uma boate de stripper de quinta categoria. Um dia Nomi tem a chance de virar dançarina de um grande show em um dos cassinos mais badalados da cidade.  


Em seu lançamento, Showgirls foi massacrado pela critica especializada, sua bilheteria foi de apenas 20 milhões de dólares, o filme custou o dobro disso e nem a bilheteria internacional ajudou a produção se pagar. Além disso, o longa foi recordista na época do prêmio Framboesa do Ouro (o Oscar dos piores do ano). Das treze categorias que foi indicado, levou sete.


Hoje, Showgirls alcançou o status de filme cult por um grupo de críticos e cinéfilos. Criticas sociais antes ignoradas, hoje são exaltadas por alguns que defendem que a obra fora incompreendida em sua época. Entretanto, o filme realmente foi injustiçado ou ele sofre da síndrome da "nova roupa do Rei"

Verhoeven, sem sombra de dúvidas é conhecido por realizar críticas sociais ácidas em seus obras. Robocop e Tropas Estelares são provas disso. Showgirls não foge a essa regra, mas uma coisa é importante ser destacada: as criticas realizadas pelo diretor já poderiam ser observadas desde sua época de lançamento. Visto que elas são nitidamente expostas no filme. 


Antes de dissertar sobre as "criticas sociais", devo lembrar ao leitor que os pontos observados são analises deste que vos escreve e não do diretor do filme. Caso venham a ser confirmadas, podemos falar que tais criticas são de fato um tema da obra cinematográfica.


Se eu resumisse o filme, sem mencionar as cenas de sexo, poderia descrever Showgirls da seguinte maneria. Na trama companhamos Nomi, uma jovem que decide ir à Las Vegas para ser tornar uma dançarina de sucesso. Chegando na cidade consegue apenas papeis em apresentações mais modestas. Sua vida muda quando conhece um produtor de uma grande companhia de espetáculos. Aos poucos ela se torna a dançarina principal de uma grande produção. Visto dessa forma, o filme se torna apenas mais um do gênero "busque seus sonhos". 


Ocorre que diferentes dos filmes que seguem essa temática por um viés edificante, Verhoeven decide mostra uma realidade mais crua. Por exemplo, mostrando que Nomi começa como stripper de uma boate de quinta categoria chamada Cheetah nos arredores de Las Vegas. 

Em um dado momento, Al Torres (Robert Davi), dono do estabelecimento, explica para a novata as regras da casa e como proceder em uma lap dance (quando a dançarina performa sensualmente próximo ao colo do homem). Diz que ela até pode tocar nos clientes, mas eles não podem tocar nela. Caso ejaculem, tudo bem, mas se colocarem o pênis para fora deve-se chamar o segurança. Mas se oferecem uma boa gorjeta, considere relevar as atitudes deles. 

A cena para mim é muito clara. O dinheiro é que manda. Temos regras, mas pagando bem, podemos abrir uma exceção. 

Outro detalhe a ser observado é a própria boate Cheetah. Por mais vulgar que o lugar aparenta ser, trata-se de um ambiente "honesto", pois ninguém é enganado do que acontece ali. Todas as meninas sabem que existem as regras do Al, mas que o dinheiro pode dar a palavra final. 


Quando Nomi vai trabalhar no show do Hotel Stardust as coisas mudam, só que para pior. 

Ela participa da seleção de novas dançarinas e acaba conhecendo Tony Moss (Alan Rachins), produtor do show Goddess. Moss se autodenomina um "escroto", o que de fato é. Num determinado momento, pede para as candidatas mostrarem mais atitude na dança e que elas "vendam seus corpos". Dessa forma, está claro a intenção é que as dançarinas se vendam, mesmo que ali não seja o local para isso. 

Outro ponto importante é quando a personagem Cristal Connors (Gina Gershon), diz para Nomi que elas são putas. "Nós pegamos os cheques, descontamos, e mostramos a eles o que eles querem ver". 

Essa comparação dos mundos ocorre anteriormente quando James (Glenn Plummer), diz para Nomi que o que ela fazia no Cheetah era mais honesto, porque lá as pessoas querem peitos e bundas, mas no Stardust, as pessoas fingem querer outras coisas, quando na verdade também querem peitos e bundas. Logo, a afirmação de Cristal, sobre elas serem "putas" é de fato reveladora.


Nomi trocou uma boate vulgar por um cassino luxuoso, mas no final das contas, continuou sendo uma stripper. Ocorre que na glamorizarão, as coisas são mais cruéis. Verhoeven é tão sagaz para diferenciar as classes sociais, que na hora de apresentar as drogas ele é pontual. Enquanto no Cheetah as meninas fumam maconha, no Stardust a cocaína é a droga da vez


Caso os pontos analisados por mim, sejam realmente a intenção de Verhoeven, as criticas à industria do entretenimento sempre estiveram ali, desde 1996. O que fica claro é que provavelmente a mídia especializada preferiu ignorar essas mensagens e focaram em massacrar o filme em suas análises.

Logo, o revisionismo posterior parece demonstrar uma "síndrome da nova roupa do rei", visto que agora todos acham Showgirls SENSACIONAL E CRITICO, quando na verdade ele sempre foi.....ou não.