
"A Ruptura" é um documentário que se propõe a comentar diferentes formas de corrupção manifestadas no mundo contemporâneo.
O filme abre com um prólogo mostrando um fragmento de “Júlio César” de William Shakespeare. Mas acaba sendo estruturado em depoimentos intercalados com monólogos teatrais de Fausto de Goethe, interpretados pela atriz Mariana Lima.
Essa forma de apresentação lembra muito outro documentário nacional, "O Mercado de Notícias" de Jorge Furtado, que faz uso de uma encenação de "The staple of news" do dramaturgo Ben Jonson. Sendo esse, muito mais bem feliz na intertextualidade com os testemunhos e reflexões trazidas pelos participantes.
Em "A Ruptura", fica parecendo que as inserções são um mero subterfúgio para transformar um material que a muito custo renderia um curta-metragem em longa-metragem. Os depoimentos parecem rápidas elucubrações que poderiam ser expostas nas redes sociais, como as threads do twitter.
O prólogo de Shakespeare é um material reaproveitado, faz parte de um registro que o ator britânico Damian Lewis fez anos atrás para The Guardian em razão do quarto centenário da morte do lendário escritor.
Da obra de Goethe se extrai o título do documentário e, o que poderia se relacionar com a corrupção daquele quem fez um pacto com o diabo. Mas isso acaba ficando no raso, só havendo um maniqueísmo moral para demonizar a questão.
Além de também ser um pretexto para adicionar imagens de ambientações na Alemanha, onde provavelmente a produção viajou para colher os depoimentos dos membros da Transparência Internacional.
O fato de boa parte dos entrevistados serem dessa mesma organização também parece ser um problema, pois reduzir o escopo para uma dimensão muito menor que o inicialmente anunciado. Além de deixar outros relatos no filme muito desassociado com este bloco majoritário.
A discussão parece ficar no âmbito das relações econômicas internacionais, como se os países em desenvolvimento não se beneficiassem do investimento estrangeiro e não saíssem dessa condição por causa da corrupção.
Ou seja, parece que só serve à um discurso da OCDE de culpabilização das nações historicamente exploradas. Uma lamentação de não haver mais um imperialismo desvairado e agora ter que lhe dar com as complexidades de lidar com a autodeterminação dos povos.
Portanto, "A Ruptura" parece uma concha não tão variada de retalhos que se emendam para que se obtenha um cobertor grande o suficiente para um mínimo, mas no fim falta coesão.