
O pintor italiano Michelangelo Merisi (1571-1610), conhecido pelo nome artístico Caravaggio, foi um dos maiores expoentes da arte barroca.
Em vez de criar obras sacras com aspirações clássicas em busca de uma beleza etérea, ele optou por representações mais palpáveis da realidade, utilizando pessoas comuns do povo, prostitutas, crianças de rua e mendigos como modelos.
Considerado um boêmio de gênio difícil, frequentava lugares marginalizados e se envolvia em brigas, confusões e problemas com as autoridades. Caravaggio acabou falecendo aos 38 anos em circunstâncias ainda debatidas por historiadores.

Para mergulhar na vida desse grande artista, "A Sombra de Caravaggio" nos apresenta Ombra (interpretado por Louis Garrel), um investigador designado pela Igreja Católica (Roma) para analisar um pedido de perdão papal a ser concedido a Michelangelo Merisi/Caravaggio (interpretado por Ricardo Scamarcio).
Assim, à medida que sua sombra revisita suas pegadas, desvendamos quem foi Michelangelo Merisi.
A trama se passa no período da Contrarreforma, quando a Santa Fé reativou o tribunal da Inquisição e buscou combater o avanço do protestantismo, reforçando os dogmas da Igreja.

Os cenários, figurinos e representações da época são bem feitos, algumas locações são museus e palácios reais que hoje são pontos de visitação. A fotografia busca capturar a estética de Caravaggio, com jogo de luz e sombra e imagens que tentam reproduzir seus quadros.
Além disso, o filme utiliza a dicotomia barroca para construir o personagem, que vive entre a luxúria e a pobreza, a agonia e o êxtase.

Posto isto, "A Sombra de Caravaggio" apresenta muitos aspectos interessantes, no entanto, não consegue ser assim no todo. Ideias postas que acabam não sendo bem executadas. A intensidade da arte barroca não necessariamente se traduz em lentidão para ser contemplada, a ponto de prejudicar sua dinâmica e vitalidade.
"A Sombra de Caravaggio" está em exibição no Festival de Cinema Italiano 2023.