
"Pele" é um documentário contemplativo que dá voz às ruas, mais especificamente às cidades de Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, mas que poderiam ser de quaisquer outros centros urbanos brasileiros.
Trata-se de um filme sem diálogos, cuja narrativa é contada na edição das imagens captadas dos muros das cidades, ou melhor, do que foi registrado neles.
Assim, grafites, pichações, lambe-lambes, publicidades, dizeres e palavras de ordem se apresentam como pictografias que revestem as selvas de pedra.
Além disso, também observamos os elementos vivos que compõem essa paisagem, tal qual algumas das atividades que acontecem nelas, como festas populares, manifestações políticas, moradores de rua, transeuntes, performances artísticas, batalhas de rap, parkour, skate, capoeira, futebol, etc.
É curioso notar que muitas das intervenções artisticas estampadas nos muros acabam se tornando pontos "instagramáveis," com pessoas tirando selfies, mesmo ao lado da pobreza.
Por vezes, somos levados a uma viagem visual e sonora quase lisérgica, com desenhos surrealistas que lembram as vinhetas de Terry Gilliam no Monty Python ou da MTV nos anos 1990.
A montagem do documentário é dividida em blocos temáticos, como fome, moradia, dor existencial, depressão urbana, cultura negra, feminino, violência policial e política.
"Pele" retrata um período pré-pandêmico, pois foi rodado em 2019. Talvez aí resida a maior dificuldade em assisti-lo, porque são acontecimentos tão recentes que exauriram e esgotaram os brasileiros que não conseguiram se alienar do que estava ocorrendo.
Além disso, muito já foi produzido acerca desses últimos dez anos desde 2013.
Dessa forma, "Pele" acaba não sendo tão fresco para quem se sente saturado com o tema. No entanto, pode se tornar mais relevante com o passar do tempo, pois tem seu valor como registro histórico.
Contudo, é sempre interessante saber o que as ruas nos contam, porque as histórias que ficam registradas nelas são as de quem as vive, não daqueles vão e só passam por elas.