Cinema sobe o morro — e leva junto cultura, memória e afeto

 



    Amanhã, o morro da Mangueira vai ganhar uma nova tela: começa o Cinema Sobe o Morro, o primeiro festival de cinema da comunidade. Idealizado por Oliver Tai — modelo, musa da escola de samba e cria da Mangueira — o projeto quer fazer da arte um ponto de encontro entre passado, presente e futuro. E não só isso: quer mostrar que o cinema também mora no alto.

    Com sessões mensais de filmes nacionais, gratuitos e de classificação livre, o festival pretende circular pelas nove quadras da Mangueira, sempre com uma curadoria que valoriza temáticas educativas e a cultura preta. Pipoca e refrigerante também estão garantidos — porque ninguém merece ver filme sem aquele combo clássico.

    “Esse projeto já existia dentro de mim há muito tempo, mas só agora senti que tinha a maturidade e a estrutura para colocar pra fora. Foi um passo de coragem, mas que ganhou força com a ajuda de muita gente”, conta Oliver, celebrando a realização do sonho coletivo. O festival nasceu de doações e da venda de camisas e bonés personalizados. E cresceu — rápido, forte, necessário.

    Mais do que exibir filmes, o Cinema Sobe o Morro se propõe a quebrar barreiras. Afinal, como Tai lembra, ir ao cinema ainda é um luxo para muita gente. “Mesmo com o cinema nacional em alta, não dá pra fingir que lazer é um direito acessível pra todos. Uma mãe da comunidade, com dois ou três filhos, não consegue arcar com ingresso, pipoca, transporte. Então a ideia é trazer o cinema pra dentro da comunidade. É isso que transforma realidades. É isso que forma pensamento.”

    A sessão de estreia será nesta quinta (19), com três curtas que dizem muito sobre potência e identidade: Lá do Alto, de Luciano Vidigal; Mandinga, de Wagner Novais; e Lápis de Cor, de Alice Gomes.

    ‘Aquilombamento’ é a palavra que define tudo isso”, afirma Vidigal, diretor de Lá do Alto, que também é cria do grupo Nós do Morro. “Minha vida foi transformada pela arte. E hoje, poder estar nesse festival, nesse lugar, é como devolver pra Mangueira o que a cultura me deu.”

    O primeiro dia do festival acontece no Campo de Futebol da Pedreira, a sete minutos da estação de metrô Maracanã (saída Mangueira), na Rua Bartolomeu de Gusmão, ao lado da clínica veterinária da comunidade.

A câmera já está rodando. E o morro é o protagonista.