Rogue One: Uma História Star Wars


Durante o filme O Balconista (1994) do Kevin Smith, os personagens Dante e Handal começam a discutir em uma vídeo locadora sobre qual filme da (então) trilogia Star Wars era o melhor, quando Handal fala de sua maior preocupação em O Retorno de Jedi: o provável número de pessoas inocentes (engenheiros, construtores e o pessoal da manutenção) que morreu durante a destruição da segunda Estrela da Morte, visto que em Uma Nova Esperança isso só é justificável porque na primeira só havia stormtroopers, generais e outros membros do Império. 

Da mesma forma como os dois personagens, os fãs da saga passaram décadas fazendo questionamentos em cima de personagens que eram coadjuvantes dos coadjuvantes, e até mesmo nos membros da figuração. 

Rogue One: Uma História Star Wars parece o filme certo para aqueles que são obcecados por estes personagens de escala menor. Afinal sempre foi uma dúvida: como os planos pra destruir a Estrela da Morte foram parar nas mãos da Princesa Leia?


Jyn Erso (Felicity Jones) é filha do engenheiro Galen Erso (Mads Mikkelsen), um dos principais responsáveis pela construção da Estrela da Morte. Logo após seu pai ser capturado pelo diretor da força Imperial Orson Krennic (Ben Mendelsohn), Jyn fica sob cuidado de Saw Guerrera (Forest Whitaker), um líder revolucionário da Aliança Rebelde que também é responsável por seu treinamento militar. 

Já adulta, é liberta do cativeiro Imperial por Cassian Andor (Diego Luna) e seu cômico droide K-2SO (Alan Tudyk) com o objetivo de ajudar os Rebeldes a descobrirem uma maneira de destruir a principal arma do Império e, ao mesmo tempo, resgatar seu pai. 

No Planeta Jheda, encontram o guerreiro Chirrut Îmwe (Donnie Yen) e o mercenário Baze Malbus (Jiang Wen) que, assim como o piloto Bohdi Rook (Riz Ahmed), se juntam a equipe. Só que os planos não saem de acordo como eles previram, e terão de fazer alguns sacrifícios, tudo em nome da causa.


O filme dirigido por Gareth Edwards (Godzilla) não é tão grandiloquente quanto os episódios regulares, mas no aguça da mesma forma. Com personagens que não são nobres, que não possuem contato com a "força" ou sequer usam um sabre de luz, sua proposta é mostrar o ponto de vista das pessoas que até então passaram desapercebidas nos outros episódios do universo de George Lucas, mas que são tão importantes quanto os heróis principais.


Outro detalhe bacana da película é que finalmente assistimos na tela um filme de guerra. Sim, porque apesar da saga se chamar "Star Wars" pouco se viu disso e tivemos de fato produções de Aventura. 

Aqui no mundo de Edwards vemos e sentimos a dor da perda, percebemos nitidamente cada soldado lutando e sacrificando suas vidas por um ideal considerado para alguns utópico. 

Inclusive a palavra que mais se ouviu na produção foi esperança, porque enquanto ela estiver viva na mente deles a rebelião terá valido a pena. Até se isso significar que tenham de sujar as mãos, afinal até a Aliança se utiliza de práticas nada heroicas, coisas que esperaríamos do lado sombrio.


O ato final faz ótimas referências a filmes como Sete Homens e um Destino e O Resgate do Soldado Ryan, assim como as séries Band of Brothers e The Pacific. Sem falar das alusões literárias (Dom Quixote com a dupla Îmwe/Malbus), religiosas (a "força" como objeto de adoração), e a fatos reais, como o ataque da Estrela a uma cidade de Jheda, que rapidamente nos remete às bombas atômicas lançadas em Hiroshima e Nagasaki.


Apesar de alguns furos de roteiro, destino piegas de alguns personagens, sem nem ao menos desenvolvê-los direito a ponto de criarmos empatia, e de um vilão apagado, Rogue One é automaticamente um dos melhores episódios da saga, amarra algumas pontas soltas, assim como é uma boa introdução a Uma Nova Esperança. Um ótimo presente de fim de ano aos fãs de Star Wars.

P.S.: Darth Vader aparece no filme. Poucas vezes, é claro, mas mostrando o porque de ser um dos vilões mais memoráveis do cinema.