It: A Coisa


Don't you want a... balloon?

Muitas obras de horror/terror/fantasia fazem parte do imaginário dos espectadores, porém algumas de fato se tornam imortais ao longo das décadas, seja por atuações memoráveis, textos que não subestimam a inteligência do público e, é claro, pelos sustos que proporcionam. E ninguém consegue fazer isso tão bem quanto o Stephen King, que por meio de suas obras sintetiza o pior e o melhor do ser humano, usando o terror como uma alegoria aos nossos principais traumas. 
O que nos leva a It - A Coisa, filme inspirado em seu livro e que, sem sombra de dúvidas, é a melhor adaptação de suas obras nos últimos 20 anos. 


Um grupo de garotos denominado Clube do Perdedores da pequena cidade de Derry se une para investigar os desaparecimentos de seus colegas e familiares. Eles se deparam com Pennywise, uma estranha entidade que se materializa boa parte do tempo como um palhaço, e que se alimenta de crianças e adolescentes que denotam alguma fraqueza ou medo. Vendo a apatia total dos adultos com os estranhos acontecimentos, decidem eles mesmos dar um fim a toda essa matança, nem que isso custe suas próprias vidas.


Vamos deixar algumas coisas claras. Apesar de ter elementos de horror, o filme basicamente é uma aventura. Quem for ao cinema esperando aquela velha fórmula dos filmes atuais, com muito gore (cenas escatológicas ou que envolvem torturas extremas) ou jumpscares gratuitos corre o risco de sair frustrado. A intenção da película não é única e exclusivamente esta. É claro que há pulos aqui e acolá, mas garanto que são todos bem feitos. A força da produção está na amizade entre os garotos e a forma como eles lidam pra superar seus problemas. A criatura em si só é a personificação de seus temores vindo a tona. 


No elenco jovem, todos estão devidamente bem em seus personagens, mas é inegável que os destaques vão para Sophia Lillis como Beverly Marsh e Finn Wolfhard como Richie Tozier. Enquanto Beverly é retrata como uma garota que desperta um misto de malícia e inveja em seus colegas e, até, em alguns adultos, mas que sofre com abusos frequentes do pai, Richie é o alívio cômico, sempre com uma tirada típica de um moleque da idade dele independente de que situação estiver.


O palhaço Pennywise do Bill Skarsgård é assustador do início ao fim. Manipulador, nojento, sádico e cheio de truques na manga, a entidade entra de vez no panteão dos vilões dos filmes de terror, visto que a personificação do Tim Curry na minissérie de 1990 já havia pavimentado esse caminho. Aliás, cabe aqui algumas comparações entre os dois atores. Enquanto Curry se destaca por levar a tela um palhaço que parece se divertir com as atrocidades e sustos que prega, Skarsgård mostra uma Coisa mais preocupada em satisfazer seu apetite voraz. Na forma como interpela suas vítimas, não há nada deixado nas entrelinhas, visto que o filme mostra seus atos sem nenhum filtro. Um exemplo disso é a famosa cena do bueira. Aqui vemos explicitamente seu ataque ao garoto. E é de arrepiar!


O filme tem suas patinadas. O uso de CGI em cenas de transformação do palhaço atrapalham um pouco a performance do ator e nos tira da imersão da trama. Na segunda metade, o longa dá uma freada e (quase) chega a ficar monótono, voltando ao ritmo acelerado no final. Para alguns fãs do livro do King, o arco do vilão Henry Bowers pode deixá-los decepcionados. E certas músicas ali não encaixam muito bem e soam apenas como uma referência gratuita.
 

Entretanto, It - A Coisa consegue superar essas limitações e se apresentar como um clássico moderno do gênero fantasia. Um filme, como poucos, que possui a capacidade de arrancar risadas, sustos e suspiros. Que venha a sequência!