Don't you want a... balloon?
Um grupo de garotos denominado Clube do Perdedores da pequena cidade de Derry se une para investigar os desaparecimentos de seus colegas e familiares. Eles se deparam com Pennywise, uma estranha entidade que se materializa boa parte do tempo como um palhaço, e que se alimenta de crianças e adolescentes que denotam alguma fraqueza ou medo. Vendo a apatia total dos adultos com os estranhos acontecimentos, decidem eles mesmos dar um fim a toda essa matança, nem que isso custe suas próprias vidas.
Vamos deixar algumas coisas claras. Apesar de ter elementos de horror, o filme basicamente é uma aventura. Quem for ao cinema esperando aquela velha fórmula dos filmes atuais, com muito gore (cenas escatológicas ou que envolvem torturas extremas) ou jumpscares gratuitos corre o risco de sair frustrado. A intenção da película não é única e exclusivamente esta. É claro que há pulos aqui e acolá, mas garanto que são todos bem feitos. A força da produção está na amizade entre os garotos e a forma como eles lidam pra superar seus problemas. A criatura em si só é a personificação de seus temores vindo a tona.
No elenco jovem, todos estão devidamente bem em seus personagens, mas é inegável que os destaques vão para Sophia Lillis como Beverly Marsh e Finn Wolfhard como Richie Tozier. Enquanto Beverly é retrata como uma garota que desperta um misto de malícia e inveja em seus colegas e, até, em alguns adultos, mas que sofre com abusos frequentes do pai, Richie é o alívio cômico, sempre com uma tirada típica de um moleque da idade dele independente de que situação estiver.
O palhaço Pennywise do Bill Skarsgård é assustador do início ao fim. Manipulador, nojento, sádico e cheio de truques na manga, a entidade entra de vez no panteão dos vilões dos filmes de terror, visto que a personificação do Tim Curry na minissérie de 1990 já havia pavimentado esse caminho. Aliás, cabe aqui algumas comparações entre os dois atores. Enquanto Curry se destaca por levar a tela um palhaço que parece se divertir com as atrocidades e sustos que prega, Skarsgård mostra uma Coisa mais preocupada em satisfazer seu apetite voraz. Na forma como interpela suas vítimas, não há nada deixado nas entrelinhas, visto que o filme mostra seus atos sem nenhum filtro. Um exemplo disso é a famosa cena do bueira. Aqui vemos explicitamente seu ataque ao garoto. E é de arrepiar!
O filme tem suas patinadas. O uso de CGI em cenas de transformação do palhaço atrapalham um pouco a performance do ator e nos tira da imersão da trama. Na segunda metade, o longa dá uma freada e (quase) chega a ficar monótono, voltando ao ritmo acelerado no final. Para alguns fãs do livro do King, o arco do vilão Henry Bowers pode deixá-los decepcionados. E certas músicas ali não encaixam muito bem e soam apenas como uma referência gratuita.
Entretanto, It - A Coisa consegue superar essas limitações e se apresentar como um clássico moderno do gênero fantasia. Um filme, como poucos, que possui a capacidade de arrancar risadas, sustos e suspiros. Que venha a sequência!