A Mulher Rei | Crítica

Em "A Mulher Rei", a diretora Gina Prince-Bythewood apresenta uma história de emocionante sobre força e amizade. E desmistifica a ideia de uma África frágil e subjugada.

Na trama acompanhamos Nanisca (Viola Davis), general das guerreiras Agojie na defesa do Reino do Daomé (atual Benim) contra ameças de toda ordem ao seu povo.

De início, boa parte do filme é dedicado ao treinamento das recrutas incorporadas ao exército Agojie e como vai se construindo o relacionamento entre elas e suas veteranas.

Aqui, fica o destaque para a personagem Nawi, muito bem interpretada pela atriz sul-africana Thuso Mbebu. Com experiencia prévia em produções televisivas, aqui ela não deixa a desejar no seu primeiro longa, brilhando ao lado de Viola Davis.

Nawi acaba criando laços mais profundos com Izogie (Lashana Lynch), uma brava amazona que serve como inspiração para novata.

Posto isto, já dá para imaginar que essa estrutura de roteiro acaba sendo um clichê, pois não se difere muito de inúmeras obras hollywoodianas que mostram um treinamento militar e a construção do laço de fraternidade entre um grupo de soldados.

Depois, somos apresentados ao cenário de um entreposto comercial que abastece o tráfico negreiro para o Brasil.

Lá temos dois personagens brasileiros: Malik (Jordan Bolger) e Santo Ferreira (Hero Fines Tiffin). Mas ocorre que nenhum dos atores são lusófonos, o que poderia ocorrer com mais apuro da produção do filme. 

Outro ponto que poderia ser melhor acurado é a historicidade. 

Claro que nenhuma obra baseada em fatos reais é uma representação fiel de um determinado período ou episódio, mas aqui certas escolhas são equivocadas de qualquer forma, e podem levar a um certo anacronismo.

A escravidão é uma prática que já ocorria há muito tempo na África. Inicialmente de forma doméstica com cativos provindos de espólios de guerras territoriais e atendia essencialmente uma economia agrícola local.

Depois ganharia escala com domínio do norte da África pelos islâmicos, que inauguram uma rota comercial com os povos subsaarianos por meios de caravanas de berberes que cortavam o deserto do Saara.

Quando na era das grandes navegações os novos estados europeus assumem as rédeas do expandido comercio mundial, antes intermediadas pelo mediterrâneo e rotas terrestres específicas, a mercantilização de escravos africanos ganha proporções gigantescas.

O tráfico negreiro europeu de forma nefasta incentivou as lutas internas no continente com a finalidade de obter novos escravos para si. Entre os reinos que passaram a praticar esse tipo de comércio, estava Daomé, por exemplo.

O filme adota uma estrutura narrativa clássica de luta do bem contra o mal para engajar o espectador. E para se comunicar mais fácil, usa alguns personagens como avatares do pensamente progressista atual. O que pode levar ao entendimento simplificado de um fenômeno muito mais complexo. A escravidão não existia e era sustentada apenas e exclusivamente por que havia uma predominância do "mau" na sociedade.  

Contudo, isso não chega a desqualificar o filme, até porque é o que mais acontece em produções de época. O que o público não pode fazer é levar uma adaptação histórica romanceada a ferro e fogo, achando que estamos diante de uma fonte primária sobre o assunto. 

"A Mulher Rei", portanto, é altamente recomendado para todos que gostam de ação, drama e referências históricas. Além disso, apesar de não ser perfeito, é um avanço na mídia cinematográfica para desmistificar a ideia que o continente africano é atrasado e sem história, como muitos acreditam.

O filme tem cena pós-créditos! 

A Mulher Rei estreia dia 22 de setembro nos cinemas. 

Nota: 8