Não Se Preocupe, Querida | Crítica

Em "Não Se Preocupe, Querida", a diretora Olivia Wilde (Fora de Série) nos apesenta uma história pouco criativa, porém bem executada para transmitir sua mensagem nada sutil ao telespectador.

Na trama acompanhamos a mudança do casal Alice (Florence Pugh) e Jack Chambers (Harry Styles), para uma cidade modelo chamada Projeto Victory, idealizada por Coach Frank (Chris Pine).

Nessa comunidade, os homens trabalham em um projeto ultrassecreto e as mulheres passam o dia em casa realizando seus afazeres domésticos. Contudo, nem o clima de otimismo social da década de 1950 deu conta de manter a sanidade mental de Alice, que começa a questionar seu papel naquele mundo supostamente perfeito.

O fato do filme se passar no contexto do pós-guerra é muito interessante. Porque foram as guerras mundiais que acarretaram no movimento das mulheres deixarem suas casas para assumir postos de trabalhos, substituindo os homens que estavam no serviço militar.

Terminado os conflitos, para parte dessas mulheres restou o desconforto de regredir ao cenário anterior de donas de casa (mas para outras não, como ficaria mais visível nos movimentos feministas dos anos 1960). 

Até a guerreira amazona Mulher Maravilha neste momento vivia aventuras bem "água com açúcar" em suas histórias nos quadrinhos, diferente da sua atuação na Segunda Guerra.

Outro ponto importante a se destacado é que durante os anos 50, o American Way of Life era o modelo a ser propagado em contraste à União Soviética no contexto de tensões da Guerra Fria, e isso também compõe a ambientação do filme.

Poderíamos ficar aqui escrevendo sobre as várias outras possíveis mensagens que são trabalhadas na história, como as criticas ao patriarcado e a importância da sororidade. Mas um filme não pode se sustentar apenas em suas agendas, ele tem que fazer seu papel como obra cinematográfica para o público.

Nesse sentido, o longa começa muito bem, mas acaba perdendo ritmo da metade até o inicio do terceiro ato, quando volta a apresentar um bom folego. Outro ponto que poderia ser melhor trabalhado é o desenvolvimento do personagem Frank (Chris Pine), que não parece ser tão ameaçador e nem ser um homem tão carismático ao ponto de todos o admirarem como a trama pede.

Além disso (agora começam os spoilers)...

O filme acaba sendo uma grande miscelânea de conceitos encontrados em diversas outras obras, a começar pelo nome da protagonista: Alice. De maneira que outras produções que colocam em cheque a realidade em volta dos personagens possam ser lembradas, como O Show de Truman, Matrix, Westworld, Black Mirror, etc.

No final, descobrimos que o ultrassecreto Projeto Victory é uma simulação dos anos 1950. Idealizado por Frank, aquela comunidade é um local que aceita homens que aparentemente "falharam" na sociedade atual e tentam resgatar uma autoestima que não têm na realidade. E para que o mundo deles seja perfeito, as mulheres devem ser submissas a eles.

Quando Alice, descobre o que está acontecendo naquele mundo de fantasia, ela decide fugir. E pera lá! Não tem ninguém que monitora o sistema para impedir isso? Tudo levar a crer que não há ninguém que possa impedir a protagonista sair de lá. Para dizer que não existem obstáculos, ela é perseguida por vários “agentes Smith” que falham miseravelmente em detê-la.

Sendo assim, Não Se Preocupe, Querida é um bom filme, com temas relevantes, mas sem grande frescor para o espectador, visto que ele recicla varias ideias exploradas nos últimos tempos.

Nota:6,5