Nada é por acaso | Crítica


Em "Nada é por acaso" acompanhamos a história de Marina (Giovanna Lancellotti) retornando de uma longa viagem com cinco milhões de reais em sua conta bancária. Agora, ela só quer recomeçar sua vida sem ter que pensar no que ficou para atrás. 

Contudo, seus constantes e involuntários encontros com Maria Eugênia (Mika Guluzian) não parecem ser apenas fruto do mero acaso. 

Essas duas mulheres irão descobrir que estão unidas por laços de amor e amizade que remontam a experiências afetivas que transcendem para muito além de suas vidas mundanas.

O fato das personagem terem nomes tão próximos: Mariana e Maria, manisfesta a intenção de reforçar os laços entre elas. 

 
No entanto, o filme entrega um roteiro bem morno e previsível. O destaque fica para os atores Giovanna Lancellotti, Rafael Villard e Fernando Alves Pinto. Mas o resto do elenco fica a quem, principalmente a atriz Mika Guluzian que não convence com os melodramas de sua personagem (talvez o material entregue não foi generoso com ela).

Marcio Trigo, diretor do longa, defende que o espiritismo fica apenas implícito, mas que não é o fator principal do filme. Entretanto, isso não se sustenta quando a resolução da trama é toda sustentada dentro desse dogma religioso. 

No decorrer do terceiro ato descobrimos o grande segredo de Marina.

Ela aceitou os cinco milhões de reais para ser barriga de aluguel. Maria Eugênia é infértil e aceita que o marido Henrique (Tiago Luz) tenha um relação sexual com Marina para que esta possa engravidar. E acontece que toda aflição de Marina passa quando ela descobre que essa era a sua missão nesta vida. 

A idiossincrasia fica nessa mensagem de que certas coisas que ocorrem em nossas vidas são obras do "outro plano" e que temos que aceitar tais circunstancias para evoluirmos.

Todavia, nada justifica que a "maternidade por substituição" não ocorresse por inseminação artificial (o que já foi enredo de uma novela televisiva de 1990, há 32 anos atrás), para além do fato de ocorrer o apelo de uma cena de sexo.

Ou, talvez pelo caráter religioso, queira-se evitar o interessante cenário de uma espécia de dilema de uma "Virgem Maria" moderna, dado que a personagem nunca tinha tido uma relação sexual. 


Mas não vamos subestimar a força desse segmento. Mesmo com apenas três milhões de adeptos declarados em todo o país, a doutrina há bastante tempo está contida em obras de sucesso na mídia brasileira, tanto na literatura, quanto nas novelas e nos cinemas.

No sincretismo religioso brasileiro a narrativa espírita é uma espécie de "segunda religião" mais bem-quista pela população. 

Só esse ano tivemos dois filmes nesse campo. E ano que vem, já temos confirmada a estreia nos cinemas de "Nosso Lar 2", continuação do popular longa de 2010. 


"Nada é por acaso", portanto, pode agradar o espectador com simpatia pelo espiritismo e os fãs da best-seller Zibia Gasparetto, da qual a história o roteiro adapta. Porém, a audiência que não se emociona com esse tipo de história pode se decepcionar.