As Bestas | Crítica

Antoine (Denis Ménochet) e Olga (Marina Foïs) é um casal de franceses que está realizando o sonhado projeto de vida bucólica deles, como proprietários de uma pequena fazenda no interior da Espanha. 

Lá, cultivam uma pequena produção de orgânicos e reformam propriedades abandonadas, visando reabilitar a região que sofre com o declínio demográfico e econômico.

No entanto, uma tensão se instaura quando contrariam a vontade da maioria local ao liderar um grupo minoritário que se opõe a uma oferta de compra das terras para a implementação de um parque eólico.

Assim, "As Bestas" é um thriller que acompanha a escalada do mal-estar gerado pela situação, progredindo para hostilidade, perseguição e retaliação, lembrando, em certos aspectos, o sufocante "Sob o Domínio do Medo" (1971) de Sam Peckinpah.

O drama social apresentado pelo filme parece se alinhar ao pensamento do historiador Mark Fisher, que em sua obra "Realismo Capitalista" argumenta que o estágio atual do capitalismo criou um quadro no qual não há mais espaço para conceber formas alternativas a ele, reforçando a ideia de que as soluções devem ser buscadas dentro do próprio sistema, reforçando a necessidade de mais capitalismo.

A energia eólica é propagada como uma solução virtuosa de energia limpa, mas ela impacta todo o ecossistema ao seu redor. Como Antoine diz, "são noruegueses que não querem turbinas eólicas em suas terras". 

Antoine propõe a alternativa de recuperar o vilarejo com uma agricultura ecológica, produzindo alimentos que agregam mais valor pelo trabalho aplicado, além da reforma das casas para melhorar a paisagem cênica da região e atrair mais moradores e visitantes.

Contudo, o ressentimento dos moradores locais, que se sentem "caipiras" explorados em trabalhos mal remunerados e insalubres, abandonados e desalentados em um "fim de mundo", os impede de visualizar possibilidades de futuro na terra onde suas famílias fincaram raízes há gerações.

Enquanto o forasteiro francês busca no campo um refúgio para viver mais conectado com a natureza e ver as estrelas, seu antagonista nativo confessa que pretende usar o dinheiro oferecido para se mudar para a cidade grande e comprar um carro, a fim de trabalhar como motorista, dividindo turnos com seu irmão. Onde um enxerga o paraíso, o outro vê o purgatório.

"As Bestas" ainda revela um ato final que, de certa forma, surpreende ao seguir em uma direção diferente da violência animalesca masculina apresentada nos atos iniciais, substituindo as bestas pelos cordeiros.

"As Bestas" estreia quinta-feira, 25 de dezembro nos cinemas.