Furiosa: Uma Saga Mad Max | Crítica com spoiler


           Em 2015, chegava aos cinemas “Mad Max: Estrada da Fúria”. O longa marcou o retorno do diretor George Miller ao universo que ele havia criado 36 anos antes com o primeiro filme protagonizado por Mel Gibson. “Estrada da Fúria” foi um sucesso de crítica, principalmente pelos efeitos práticos e pelo destaque da personagem Furiosa, vivida pela atriz Charlize Theron. O plano inicial de Miller era gravar simultaneamente “Estrada da Fúria” e um prequel, que na época ficou conhecido por “Mad Max: Furiosa”, mas o plano foi abandonado e apenas “Mad Max: Estrada da Fúria” foi produzido.

    Agora, nove anos depois da última produção, George Miller, volta para contar a origem de Furiosa e explicar um pouco mais da dinâmica daquele mundo pós apocalítico A atriz  Alyla Browne e Anya Taylor-Joy, assumem respectivamente o papel de Furiosa, em sua fase criança e jovem adulta e Chris Hemsworth o antagonista Dementus.

    Quando o mundo entra em colapso, a jovem Furiosa é sequestrada do Vale Verde das Muitas Mães e cai nas mãos da horda de motoqueiros liderada por Dementus. Vagando pela terra desolada, eles encontram a Cidadela, controlada por Immortan Joe. Enquanto os dois tiranos lutam por poder e controle, Furiosa terá que sobreviver a muitos desafios para encontrar e trilhar o caminho de volta para casa.

    Furiosa: Uma Saga Mad Max” sofre do efeito reverso de uma continuação. Geralmente, primeiro temos o filme de origem, que muitas vezes é um bom filme, seguido por uma continuação que frequentemente supera seu antecessor. Neste caso, temos uma trama que é um prequel de origem e que precisa ser tão bom ou melhor que o primeiro filme, que na verdade é sua continuação. Esse é um dos maiores desafios que o longa enfrenta, porque, sendo uma história de origem, precisa amarrar as informações e manter a qualidade do filme anterior.

Com quase duas horas e meia de duração, a produção se divide em cinco capítulos:

1. O Polo da Insensibilidade

2. Lições do Deserto

3. A Clandestina

4. Indo para Casa

5. Além da Vingança

    Os arcos não são muito longos e acompanham desde o sequestro de Furiosa até o dia em que ela decide salvar as esposas de Immortan Joe, o que desencadeia os eventos do filme de 2015. Temos um deslumbre do Vale Verde, um local que se mantém graças a energias renováveis, eólica e solar. A menção a esse tipo de fonte de energia é interessante quando pensamos no mundo atual e no que essas alternativas podem se tornar se continuarmos a utilizar as opções atuais.

    Uma coisa importante a destacar sobre o Vale Verde é a antítese que ele representa neste mundo. Parece que seus idealizadores, além de terem mais consciência, têm mais conhecimento tecnológico, enquanto a galera que depende do petróleo seria mais ignorante, por persistir em continuar utilizando petróleo.

     Um dos destaques do longa é a batalha que se desenvolve no capítulo três, "A Clandestina". A batalha, que faz lembrar um combate entre navios de guerra, se desenrola durante 20 minutos, sendo praticamente todo o enredo deste capítulo. Miller apresenta uma ótima sequência de ação, desenfreada e muito bem filmada, que parece envolver muitos efeitos práticos.

    Mas o longa dirigido por Miller também apresenta problemas. Um dos principais é em relação a Furiosa. Admito que posso ter deixado passar alguma informação. Em determinado momento do capítulo dois, "Lições do Deserto", Erectus, um dos filhos de Immortan Joe, decide retirar Furiosa do cofre, possivelmente para violenta-la. No entanto, ela consegue fugir. Sua fuga é ignorada e se torna um ponto cego na trama. Seu desaparecimento deveria chamar a atenção, pelo simples fato de Furiosa ter sido uma escolha de Immortan Joe como parte de um acordo com Dementus, no qual Dementus ficaria com a Vila Gasolina.

     Outro problema é o personagem Jack (Tom Burke), que faz as vezes de Max. O personagem é bom, não posso negar, e Burke poderia, para mim, ser um bom Max; ele tem presença para isso. Mas quando ele faz uma alusão ao personagem, isso fica ruim, embora não tão ruim quanto quando o próprio Max aparece de forma "tímida" para salvar Furiosa. Esse é o problema principal: essa conexão desnecessária, como se o destino dos dois estivesse entrelaçado.

    O longa protagonizado por Taylor-Joy e Hemsworth apresenta diversos pontos positivos, especialmente em relação a alguns símbolos presentes na narrativa. Após sua fuga, Furiosa se infiltra no grupo de asseclas da cidadela, mantendo-se calada para não comprometer seu disfarce, já que se passa por um homem. Quando finalmente obtém um pouco de poder, ela utiliza sua voz para se impor naquele mundo. Embora não reinvente a roda, as cenas de ação continuam excelentes, destacando-se principalmente as que utilizam planos abertos para evidenciar a imensidão do local totalmente inóspito que a Terra se tornou.


    O roteiro também é categórico ao traçar as guerras que a humanidade já enfrentou, deixando claro que muitas ainda estão por vir. Essas guerras podem durar de um a quarenta dias, mas, mesmo que a humanidade esteja perdida, elas continuarão.

     Destaco especialmente o papel do historiador, uma figura de grande importância, mas que recebe pouco destaque na trama. Mesmo no caos do mundo pós-apocalíptico, Dementus reconhece a importância de ter alguém que conheça o passado. Um homem que entende o passado não está apenas se precavendo para não repetir erros, mas também possui a vantagem estratégica de conhecer as armas que pode usar para atacar e se defender.

    Diante do exposto, Furiosa: Uma Saga Mad Max, provavelmente seria um grande filme se fosse concebido do modo no qual foi pensado e tendo sua estreia antes de Estrada Para Fúria lá em 2015. A nova aventura ficará em um limbo de opiniões. Muitos vão adorar, não gostar e talvez muitos ficaram como eu, sem uma opinião sobre o filme. De qualquer forma Miller apresenta uma história interessante muito bem filmada que apresenta os créditos perfeito mais no momento errado, mas essa eu deixo para você descobrir no cinema . Vale destacar que um projeto do universo Mad Max está em produção e agora basta esperar.

 Nota 7/10