Chegou aos cinemas nacionais F1, filme estrelado por Brad Pitt e produzido por Lewis Hamilton. Apelidado de "o maior que nunca foi", Sonny Hayes (Pitt) era o fenômeno mais promissor da Fórmula 1 nos anos 1990, até que um acidente na pista quase encerrou sua carreira. Trinta anos depois, ele se tornou um piloto nômade contratado por equipes diversas, até ser procurado por seu ex-companheiro de equipe, Ruben Cervantes (Javier Bardem), hoje dono de uma equipe à beira do colapso. Ruben convence Sonny a voltar à Fórmula 1 para uma última chance de salvar a escuderia e provar que ainda pode ser o melhor do mundo. Ao lado dele estará Joshua Pearce (Damson Idris), o novato estrela determinado a trilhar seu próprio caminho. Mas quando os motores rugem, o passado de Sonny vem à tona — e ele descobre que, na Fórmula 1, seu companheiro de equipe também é seu maior rival.
Dirigido por Joseph Kosinski (Top Gun: Maverick), o longa foi rodado com câmeras IMAX e carrega o mesmo tempero nostálgico do sucesso estrelado por Tom Cruise: a rivalidade entre gerações, os treinos duros no estilo Rocky, e o resgate de um passado glorioso. Kosinski entrega uma direção sólida, que valoriza tanto os momentos íntimos quanto as cenas de pista. As corridas não são apenas set pieces visuais — elas impulsionam a trama. Ao todo, são seis GPs ao redor do mundo, embora o filme não tenha incluído o Grande Prêmio do Brasil, o que é, no mínimo, frustrante para o público nacional.
O foco está no contraste entre dois tempos: Sonny é o veterano tentando reencontrar seu lugar, enquanto Joshua representa a geração que nasceu conectada, preocupada com fotos, redes sociais e engajamento. Há uma cena simbólica em que Joshua, mesmo após perder a corrida, para para tirar selfies para o Instagram. Já Sonny prefere o silêncio, o suor e os detalhes técnicos. Isso diz muito sobre como o filme entende a evolução (ou involução) da relação com o esporte.
Kate McKenna (Kerry Condon), a engenheira da equipe, é mais que um adorno narrativo. Ela tem uma história própria, e sua presença ali se justifica plenamente. Ruben, interpretado com energia por Bardem, é quem acredita em seu talento e garante seu lugar na equipe — em um ambiente ainda extremamente masculino. Já personagens como Peter Banning (Tobias Menzies) e Jodie (Callie Cooke) acabam sendo subutilizados, servindo mais para atender conveniências de roteiro do que para agregar de fato à história. Mas isso também remete ao cinema esportivo clássico dos anos 1990: antagonistas caricatos e arcos pouco desenvolvidos que funcionam dentro da lógica do espetáculo.
Outro ponto que vale destaque é o acerto da Apple em levar F1 para os cinemas. Em tempos em que lançamentos importantes mal respiram nas salas antes de serem engolidos pelas plataformas, essa escolha mostra inteligência estratégica — e respeito pela experiência cinematográfica. Se os streamings querem realmente fortalecer suas marcas como produtoras de cinema, precisam entender que o cinema ainda é o palco principal. Exibir filmes na telona não enfraquece o streaming, pelo contrário: fortalece o valor da obra, cria desejo, constrói prestígio. O erro é o que acontece com títulos como Homem com H, da Netflix, que mal foi anunciado e já está disponível no catálogo — sem tempo de maturação, sem gerar conversa. A Apple tem feito um caminho mais interessante: aposta em filmes com potencial e trabalha o lançamento nos cinemas como um primeiro ato, deixando o streaming como a boa e velha "locadora do depois". Ainda precisa, claro, moldar seu público — tanto nas salas quanto dentro da sua plataforma — para que entenda que certos filmes são pensados para a grande tela, e outros, sim, cabem melhor no famoso home video. F1 não é só um filme sobre carros, é uma experiência — e esse tipo de experiência precisa de som alto, tela grande e cadeira vibrando no meio da curva.
F1 pode não reinventar a roda, mas entrega aquilo que promete: uma boa história de superação, rivalidade, legado e paixão pelo automobilismo. Suas maiores virtudes estão nas pistas, no realismo das imagens captadas em IMAX e na forma como usa as corridas como parte orgânica do enredo. É cinema de entretenimento da melhor qualidade — e, por isso, vale o ingresso.
Nota: 7,5/10