Superman 2025 | Crítica com Spoilers

A Eterna Busca pelo Equilíbrio: O Desafio de Adaptar o Superman para as Telas

    Adaptar o Superman para o cinema nunca foi uma tarefa fácil. Afinal, ele é um personagem de poder quase ilimitado, o que exige um equilíbrio absoluto em cada elemento da produção. Direção, roteiro, elenco e efeitos especiais precisam trabalhar em sintonia milimétrica. Qualquer desvio — seja por excesso ou por falta — pode comprometer a obra.

    Essa dificuldade fica evidente ao analisarmos os principais filmes do herói ao longo da história:

• A Era Clássica: Idealismo e Limitações Técnicas


    O primeiro longa-metragem, dirigido por Richard Donner e estrelado pelo icônico Christopher Reeve, estabeleceu a base emocional do personagem no cinema. Mesmo sem grandes desafios físicos para o herói — em parte devido às limitações tecnológicas da época — o filme é sólido e carregado de idealismo.

    Superman II eleva o nível de ação e drama, colocando o Homem de Aço contra inimigos à altura, aprofundando sua jornada emocional com um conflito mais físico, mas também mais humano.

Superman – O Retorno (2006): Drama e Analogias Messiânicas

    Aqui temos novamente Lex Luthor (Kevin Spacey) como vilão, mas a aposta é em um Superman mais contemplativo, com forte carga emocional e analogias religiosas. Apesar de interessante em proposta, o filme não empolgou o grande público.

• A Visão de Zack Snyder: Ação Intensa e Conflitos Internos

    Em O Homem de Aço (2013), a abordagem é mais agressiva, com cenas de ação intensas e efeitos visuais grandiosos. Ainda assim, falta ao personagem um arco de aprendizado real.
Em Batman vs Superman: A Origem da Justiça, o Superman continua sem evolução clara, jogado em uma trama sombria e superlotada de elementos, sem o encerramento emocional que o personagem merece.

O Novo Capítulo: James Gunn e o Superman de 2025

    É nesse contexto que James Gunn assume o desafio de reinventar o Homem de Aço. Seu Superman precisa, mais do que nunca, reencontrar o equilíbrio entre poder e humanidade, ação e esperança.

    No novo filme, acompanhamos um Clark Kent já em início de carreira como repórter no Planeta Diário e atuando como Superman. A trama não reconta a origem do herói — uma escolha acertada, já que o público conhece bem essa história.

    Logo nos créditos iniciais, um texto resume marcos importantes: há três séculos, descobrimos os meta-humanos; há três décadas, uma nave trouxe um bebê à Terra; há três anos, ele se revelou como Superman; há três semanas, ele impediu uma guerra; há três horas, enfrentou o Martelo da Borávia; e há três minutos, sofreu sua primeira derrota.

    Esse “prólogo” nos conduz à famosa cena no Ártico, onde o Superman cai e aciona a Fortaleza da Solidão. Paralelamente, Lex Luthor arma uma conspiração complexa para desacreditar o herói e colocar o mundo contra ele.

    O filme também apresenta outros personagens do novo universo DC — como Guy Gardner (Lanterna Verde), Mulher-Gavião, Senhor Incrível e Engenheira — além do carismático Krypto, o Supercão. Gunn os introduz com equilíbrio, fazendo parte de um universo maior: o “Capítulo Um: Deuses e Monstros”.

Referências, Quadrinhos e Realidade Política


    James Gunn mergulha fundo nas referências — dos quadrinhos ao clássico filme de 1978. A trilha de John Williams, a motivação de Lex por terras, o Krypto, os robôs e até a criação de um clone do Superman, pelo Lex — tudo remete aos quadrinhos clássicos.

    Mas o filme também está firmemente enraizado no presente. Concebido em 2022 e 2023, durante crises globais como os conflitos entre Rússia e Ucrânia e Israel-Hamas, Superman aborda o impacto político do herói. A intervenção do Superman em uma guerra internacional gera uma crise: afinal, ele é um herói global ou um agente do governo americano?

    Esse debate já apareceu nos quadrinhos, como em 2011, quando o Superman renunciou à cidadania dos EUA dizendo: “A verdade, a justiça e os valores americanos não são suficientes. O mundo é muito pequeno e está muito conectado.”

    Quem insiste que Superman "não é político" precisa rever os próprios quadrinhos: em sua estreia, ele salva uma mulher vítima de violência doméstica e impede uma execução injusta. Super-heróis sempre refletiram as tensões do mundo real.

Entre Emoção, Humor e o Equilíbrio Perdido

Eu me emocionei em muitos momentos do filme, não nego. Ver Superman salvando um cachorro, sendo amado pelas crianças, sendo símbolo de esperança — em um mundo carente de heróis inspiradores — é algo maravilhoso.

Mas, infelizmente, James Gunn pesa a mão em alguns momentos, especialmente ao tentar se distanciar da versão de Zack Snyder. O excesso de humor, embora não seja ruim em si, tira um pouco do equilíbrio que o próprio roteiro busca. A presença de Krypto é simpática, mas às vezes beira o exagero.

Outro ponto que me chamou a atenção foi a estrutura narrativa em blocos. Isso talvez tenha sido agravado por eu já ter assistido aos 30 minutos iniciais no evento no Rio de Janeiro, o que pode ter afetado minha percepção. Ainda assim, o ritmo em certos trechos pareceu desconexo.

Cinema de Super-Heróis com Propósito


    Ainda assim,
Superman (2025) é um bom filme. Traz de volta o herói que não desiste do que é certo — mesmo quando é difícil — e nos lembra da importância de se preocupar com o próximo. O filme também mostra que o cinema de super-heróis pode, sim, ser divertido e crítico ao mesmo tempo.

    E, convenhamos: depois de tantos anos tentando encontrar o tom ideal, finalmente temos um Superman que soa como Superman — mesmo que ainda haja ajustes a fazer, afinal de contas, por mais que seja um filme do Superman esse longa é o inicio de um universo que a DC pretende construir nos cinemas. 


Nota:7/10