O diretor Zach Cregger apresenta em A Hora do Mal (Weapons) um terror moderno com ecos de contos dos Irmãos Grimm, repleto de simbolismo e moralidades ocultas. O resultado é uma obra tensa e intrigante, que vai muito além dos sustos para explorar os medos coletivos e as feridas sociais que carregamos.
O desaparecimento inexplicável
O mistério se intensifica ao descobrirmos que o desaparecimento envolve apenas os estudantes da professora Justine (Julia Garner). Por que apenas sua turma? Quem estaria por trás de tudo? E, talvez mais perturbador, qual é o verdadeiro motivo desse sumiço coletivo?
Uma narrativa em capítulos
A partir daí, acompanhamos:
Justine (Julia Garner), a professora marcada pelo escândalo;
Acher (Josh Brolin), um pai em busca do filho desaparecido;Essa estrutura permite que o público monte o quebra-cabeça aos poucos, sentindo o peso de cada escolha, silêncio e detalhe visual — desde a fotografia sombria até planos que nos fazem reparar em elementos estranhos e incômodos, como uma porta que se abre sozinha, convidando para algo que talvez seja melhor não entrar.
Bruxaria e o peso do estigma
A cena remete a A Letra Escarlate, em que a protagonista é condenada a carregar um símbolo de vergonha. Aqui, a “marca” serve para estigmatizar Justine, tornando-a alvo constante de olhares e julgamentos.
Essa crítica não é apenas ficcional: casos reais recentes mostram como mulheres ainda podem ser acusadas de “bruxaria” e sofrer violência. Em 2014, no Guarujá (SP), uma mulher foi linchada até a morte sob a acusação infundada de praticar magia negra com crianças. Em 2021, no Mato Grosso do Sul, outra mulher foi brutalmente agredida por vizinhos com a mesma justificativa. Conhecer esses fatos torna o terror do filme ainda mais crível — e assustador.
Símbolos, números e teorias
Cregger, no entanto, já declarou que escolheu 2h17 de forma intuitiva, mesmo sendo fã de O Iluminado e cogitando mudar para 2h37 como homenagem a Kubrick. Ainda assim, o número reaparece em outros elementos, como o rifle com “217” gravado, reforçando a sensação de que tudo está interligado.
Um terror que prende e provoca
Se você gosta de um terror que provoca reflexão e te deixa pensando muito depois dos créditos, este é o filme certo. E, se puder, assista na tela grande — vale cada minuto.