Uma Batalha Após a Outra - Crítica com Spoiler

    Uma Batalha Após a Outra é o novo filme de Paul Thomas Anderson, que utiliza como base para seu roteiro o livro Vineland, de Thomas Pynchon. O filme não é uma adaptação literal, mas sim uma obra inspirada, o que permite ao diretor/roteirista desenvolver sua própria trama sem ficar preso ao livro.

    Pat Calhoun e Perfidia Beverly Hills, integrantes do grupo revolucionário de extrema esquerda French 75, iniciam uma trajetória de atentados contra instituições políticas e financeiras, enquanto Perfidia se envolve com o comandante Steven Lockjaw, que a deseja obsessivamente. Após ter uma filha, Charlene, Perfidia abandona a família para seguir na militância, mas acaba capturada e delata o grupo em troca da liberdade, levando à perseguição e ao exílio dos companheiros. Dezesseis anos depois, Pat vive escondido como Bob, viciado e paranoico, enquanto cria a filha adolescente em Baktan Cross. Já Lockjaw, agora coronel do exército, busca ingressar em uma sociedade secreta de supremacistas, mas para que isso dê certo precisa caçar Bob e Willa em segredo.

    Uma Batalha Após a Outra tornou-se o favorito não só da crítica, mas também de boa parte da audiência que assistiu ao filme. Com 2h40 de duração, o longa apresenta uma trama complexa, principalmente pelo trabalho conjunto de Anderson e seu elenco. O diretor consegue equilibrar muito bem a participação de todos em tela. O filme conta com Leonardo DiCaprio, Sean Penn, Benicio Del Toro, Teyana Taylor, Chase Infiniti e Regina Hall. Cada ator executa muito bem seu tempo de cena, mas o destaque vai para Teyana Taylor (Perfidia Beverly Hills) e Chase Infiniti (Willa Ferguson). As duas atrizes conseguem transmitir com intensidade todos os sentimentos de suas personagens — da raiva ao amor, passando pelo desejo de luta.

    O longa se divide em dois blocos: o primeiro contextualiza o grupo revolucionário French 75 e seus membros; o segundo mostra o salto temporal de dezesseis anos. O nome do grupo sugere uma possível homenagem ao movimento feminista francês dos anos 1970, especialmente às campanhas pelo direito ao aborto, o que dialoga com o fato de que muitos membros são mulheres.

    O French 75 atua libertando imigrantes de prisões estatais — algo que remete a situações recentes nos Estados Unidos — derrubando energia de cidades e explodindo centros de campanha de políticos. Passados dezesseis anos, acompanhamos Bob e sua filha Willa vivendo uma rotina distante da revolução, sob as regras rígidas de um pai neurótico, viciado e alcoólatra. Em contrapartida, o agora Coronel Steven J. Lockjaw (Sean Penn) almeja fazer parte da sociedade secreta “Clube de Aventureiros de Natal”, mas precisa provar que nunca teve uma relação interracial. Suspeitando que Willa possa ser sua filha, ele parte em uma caçada secreta contra ela e contra Bob, personagem de DiCaprio.

    Paul Thomas Anderson apresenta uma trama no mínimo curiosa. Ele critica tanto a direita quanto a esquerda — embora quem saia mais criticado seja, neste momento do filme, a esquerda. Na frenética primeira parte, vemos o French 75 em ação intensa, enquanto na segunda parte a narrativa recua para mostrar as consequências pessoais e íntimas desses atos. Perfidia age guiada por ego e convicções radicais; Bob luta com seu passado, suas falhas e sua lealdade. Lockjaw, por sua vez, emerge como o antagonista que representa o autoritarismo, a hipocrisia e os perigos do extremismo.

    No entanto, um dos grandes problemas do longa é que ele nem sempre contextualiza claramente o mundo que retrata: não sabemos como a população em geral vê o French 75 ou se suas ações realmente mudam algo na sociedade que as observa. Em 2h40, há espaço para explorar isso melhor — medir o impacto real das insurgências, além dos confrontos pessoais.

    Ainda assim, o filme entrega cenas memoráveis — a perseguição final é um crescendo visual e emocional que funciona muito bem. Pode não ser o “filme perfeito” que alguns críticos celebram, mas é uma obra poderosa, necessária. Uma Batalha Após a Outra confirma Paul Thomas Anderson como um cineasta que, mesmo mergulhando em política e urgência, jamais abandona o olhar humano, falho, heroico — e sempre em conflito.