Estreia nos cinemas neste feriado, dia 20, o novo filme do astro Glen Powell, O Sobrevivente, adaptação do livro O Concorrente, escrito por Richard Bachman, pseudônimo utilizado por Stephen King. Em 1987, a obra ganhou sua primeira versão cinematográfica, protagonizada por Arnold Schwarzenegger. Agora, trinta e oito anos depois, o diretor Edgar Wright não entrega um remake, mas uma adaptação mais fiel ao material original.
A trama se passa em um futuro próximo. O Sobrevivente é o programa de maior audiência da televisão, uma competição mortal em que participantes precisam sobreviver por trinta dias enquanto são caçados por assassinos profissionais. Cada movimento é transmitido a um público sedento por violência, e cada dia vivo aumenta o prêmio oferecido ao vencedor.
Desesperado para salvar a filha doente, Ben Richards, vivido por Glen Powell, aceita entrar no jogo após a insistência do carismático porém implacável produtor Dan Killian, interpretado por Josh Brolin. Os instintos, a teimosia e a coragem de Ben logo o transformam em favorito do público e em ameaça direta ao sistema. A popularidade cresce junto com o perigo, e Ben precisa enfrentar não apenas os caçadores, mas uma nação inteira obcecada em vê-lo fracassar.
Mesmo que Edgar Wright se aproxime mais do livro, o diretor falha em um ponto essencial. Por se tratar de um reality show mortal em que pessoas são caçadas e precisam sobreviver por trinta dias, o filme exige senso de urgência constante. Essa urgência, porém, quase nunca aparece. Na fase inicial do reality, chamado O Sobrevivente, o personagem deveria transmitir risco imediato, mas em nenhum momento sentimos que Ben corre perigo real. O roteiro não cria tensão, não constrói ameaça e não provoca o desconforto necessário para um thriller de perseguição. É uma narrativa de corrida contra o tempo sem a sensação de corrida contra o tempo.
O elenco faz sua parte. Glen Powell convence no papel de Ben Richards. Josh Brolin está excelente como Dan Killian, com um arco sólido e presença forte. Colman Domingo entrega um ótimo Bobby T, apresentador de O Sobrevivente, lembrando o tom satírico do personagem de Samuel L. Jackson em RoboCop, porém com mais consistência.
A performance de Josh Brolin se destaca especialmente porque o personagem concentra uma das forças do filme, a crítica social. Mesmo que o longa não alcance todo o seu potencial, a crítica permanece interessante e fortalece a narrativa, embora não o suficiente para sustentar duas horas e treze minutos de duração.
O filme aborda o poder da mídia, tema central no livro. Trabalha manipulação de edição, controle das massas e construção de mitos. A obra também aponta como a mídia responde aos desejos do público e como esse ciclo se retroalimenta. Entre os temas levantados, um dos mais relevantes é a ideia de que o sistema não favorece empatia. Incentiva o isolamento, reforça o cada um por si e desencoraja qualquer ato de solidariedade.
Outro ponto que chama atenção é a possível cutucada da Paramount na Netflix. A emissora fictícia da história se chama Network e o prédio da empresa exibe um grande N vermelho, referência evidente ao símbolo da Netflix, maior serviço de streaming do mercado e concorrente direta dos demais, mesmo que muitos ainda imaginem competir com ela no mesmo nível.
Apesar de estrear hoje nos cinemas brasileiros, o longa já foi lançado no exterior e seu desempenho nas bilheterias está abaixo do esperado, sinalizando um fracasso. Se o resultado se repetir por aqui, é possível concluir que Glen Powell ainda é um ator muito mais popular dentro de sua bolha do que entre o público geral, não sendo capaz, por enquanto, de levar grandes audiências às salas.
O sobrevivente é um bom filme, não reinventa o gênero nem suas críticas sociais, mas mantém essas discussões ativas na cabeça do público e ilumina alguns temas importantes. No entanto, falha ao entregar a intensidade e a força de uma aventura de ação.



