"Fábulas Ancestrais" Número 2 - Natureza e liberdade

Número 2 - Natureza e liberdade



A mãe é a líder, a base da vida em sociedade. Dos gu´un é o alvorecer, ensinando a importância da igualdade. Em Sartária, que torna o Biongo negro, por sua planície barrenta, onde nada mantem-se íntegro, percebemos a verdade na relação de natureza e liberdade.
É na Zuinga Média, mais ao Norte nas terras de Suávia, que passamos a conhecer a sabedoria de Málera, a mãe-chefe dos Bodena, de grande sabedoria e forte presença, ensina a todos a observar e as nuances descortinar. Assim foi com Jároce, menina jovem e doce que em sua curiosidade, própria da idade, quis saber sobre igualdade.

- Bondosa mãe-chefe Málera, desejo saber a validade da afirmativa de que as formigas experimentam a igualdade.
Entre os Bodena era prática cultural comparar a vida gu´un, com a vida natural.
Parecia ser a vida gu´un uma extensão da vida natural. Mas Málera não entendia ser comum o que é deveras tão plural.

- As formigas são resistentes, mas ir além de sua destreza, entrementes, não lhes é possível por natureza.

- O que significa essa natureza que limita?

Málera sorriu, e sem um instante perder, diante da curiosidade juvenil pôs-se a responder. - Observe como em tempos chuvosos a que tudo inunda, os formigueiros, a verdade da vida, nada mudam e tornam-se mortos.

- Sim, elas flutuam, tristemente sem vida, nas pequenas poças indubitavelmente envolvidas.

- Escute pequena Jároce, a natureza é cheia de suas leis. As criaturas nascem, desenvolvem, procriam e morrem. Desfrute o caminho doce das naturezas inexoráveis que as crianças de Un, negam, renegam e sonegam.

- Não compreendo - disse Jároce em sofrimento.

- A natureza, para os que sabem observar, segue um caminho lógico e da natureza o gu´un é criatura singular, segue um caminho dialógico.

- Sim, de Un somos filhos, como tudo o que nos cerca. Desde os mansos herbívoros, até a mais forte fera.

- Mas de todos a natureza de Un permitiu a escolha somente a um.

- Escolher é optar, isso eu sei interpretar.

- Pois escute a mãe falar. Escolher não é simplesmente optar. Qualquer animal pode optar entre ir ou ficar. Mas escolher é algo excepcional, é ter a arte do saber, o sublime racional.

- E as formigas não escolhem o destino que colhem?

- Não, as formigas, optam e o destino não escolhem. São capazes das maiores engenhosidades, mas não constroem prosperidade. São hoje as mesmas de ontem e no futuro serão as mesmas de hoje. Nós somos capazes de progredir, de escolher entre o que, o por quê e o como não só de optar entre o ir e o vir.

- Não compreendo a ligação entre a natureza que limita e a invalidade da igualdade entre as formigas.

- Nas formigas podemos observar um conceito ao mesmo tempo parecido e diferente que alguns tentam aos gu´un aplicar.

- E qual é esse conceito que enturva o bom preceito?

- Igualitarismo é o nome do vício, o egocentrismo, barreira do que é auspício. A igualdade é uma virtude que só pode surgir da liberdade e a liberdade é um bem intelectual que surge do que é desigual.
Jároce percebeu e partiu a espalhar o conhecimento em farfalhar. Liberdade só existe na diferença e a igualdade é uma escolha. Pregar um padrão de vida, do igualitarismo aproxima os gu´un e segregar opinião de dúvida não é companheirismo e afasta da missão de Un.


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