Ferrari | Crítica

"Ferrari" é uma cinebiografia que adota o recorte temporal específico em torno de um momento determinante na vida do biografado, buscando extrair o máximo de síntese para revelar quem foi Enzo Ferrari.

Em 1957, a Ferrari já se consolidara como um símbolo italiano, mas a fábrica enfrentava enormes problemas financeiros, tornando uma acordo com uma montadora maior inevitável no futuro próximo.

Na vida pessoal de Enzo Ferrari (Adam Driver), crises com sua esposa e sócia, Laura Ferrari (Penélope Cruz), eram intensificadas pela perda do único filho do casal. 

A tolerância com os casos extraconjugais de Enzo torna-se insustentável quando Laura descobre não somente que ele mantinha uma segunda casa com a amante de longa data Lina Lardi (Shailene Woodley), mas que os dois criavam um filho bastardo em segredo.

Enfrentando essa situação complexa, Enzo prepara sua escuderia para a corrida Mille Miglia, uma prova de longa duração pelas estradas da Itália. Tudo isso ainda ocorre diante do impacto da morte de um de seus pilotos durante testes privados semanas antes do evento.

A pressão de suas relações pessoais e dos problemas financeiros da fábrica é transferida para sua equipe de pilotos em busca da vitória. O filme retrata com maestria as corridas, que apesar de terem pouco espaço na trama, acabam destacando na visceralidade dos carros a tormenta de Enzo fora das pistas. Apesar de alguns efeitos de computação gráfica bem toscos nas breves cenas de acidentes.

Naquela época, o automobilismo era extremamente perigoso, com uma frequência significativa de acidentes fatais, como o "Desastre de Le Mans" em 1955. O desfecho trágico de Mille Miglia em 1957 também influenciou mudanças nas competições de corrida.

Para quem acompanha a Fórmula 1 com algum interesse, é possível identificar alguns comportamentos que, de certa forma, persistem na Ferrari até hoje. Como nos casos em que os pilotos são submetidos aos interesses da equipe durante as corridas, vide o famoso episódio em que Rubens Barrichello teve que abrir mão de uma vitória para favorecer Michael Schumacher, que estava melhor posicionado no campeonato.

Portanto, "Ferrari" não se trata apenas de um filme sobre competição automobilística ou um conto de sucesso capitalista de uma fabricante de carros, mas sim uma história focada no momento em que o fundador da marca italiana enfrentou pressões, revelando mais do seu verdadeiro caráter.

"Ferrari" estreia dia 22 de fevereiro nos cinemas.