Guerra Civil | Crítica

 


"The eye--it cannot choose but see"

William Wordswoth


    Qual é o papel do jornalista? Ele deve interferir nos fatos ou apenas registrá-los? Em "Guerra Civil", o diretor e roteirista Alex Garland (Ex Machina) apresenta esse questionamento em seu novo longa-metragem protagonizado por Wagner Moura, Kristen Dunst, Cailee Spaeny e Stephen McKinley.

     Na trama, acompanhamos Joel (Moura), Lee (Dunst) e Summy (McKinley), três jornalistas/fotojornalistas veteranos, que decidem ir à Washington, para entrevistar o presidente dos EUA, tudo isso enquanto o país está passando por uma guerra civil. O grupo ainda agrega a novata Jessie (Spaeny).  


    Garland mistura em sua trama três gêneros: road movie, guerra e jornalístico, em uma única trama, fazendo com que seu roteiro seja dinâmico e intenso sem perder o ritmo. O que mais chama a atenção no roteiro de Garland é como ele não é explícito ao apresentar certos fatos, tudo está nos detalhes do roteiro. Por exemplo: não é explicado para o público o  que levou ao conflito, mas sabemos que o presidente realizou ataques aéreos contra cidadãos civis, que ele está em exercício há três mandatos consecutivos e dissolveu o FBI, evidenciando que provavelmente a insurreição aconteceu contra as atitudes deste presidente déspota. Bastando assim apenas informações, para que o público entenda os motivos que levaram o país a entrar nesta “Guerra Civil”. 


    Por mais que seja um filme sobre jornalistas e sua “imparcialidade”, afinal de contas, as perguntas que Joel (Moura) pretende fazer ao presidente demonstram que seu objetivo é colocá-lo contra a parede. A trama não deixa de colocar a política nas linhas do roteiro. Mas, por Garland não ser explicativo (como Christopher Nolan), talvez o público se sinta perdido, achando que o filme não traz informações necessária, quando elas estão bem ali debaixo de seus narizes. E esse é um problema, visto que o público sente a necessidade de ter tudo mastigado pelo roteiro ou por um vídeo do Youtube. 


    Um dos pontos que merecem sua atenção na trama é a postura de Lee (Dunst), a fotojornalista, quando segue soldados para registrar a ação deles, assume todos os trejeitos até o modo como segura sua câmera, como se fosse uma arma pronta para mirar e atirar no momento certo. É muito interessante ver essa atitude da personagem, pois ela acaba agindo como um soldado no meio do conflito, devido ao tempo que realiza essa atividade. No início do filme, ela alerta Jessie para que compre um capacete e um colete à prova de balas, demonstrando como os jornalistas não deixam de ser soldados no meio da guerra.


    O longa é, claro, e explicito em destacar a importância do jornalismo e em, consequência, dos jornalistas em denunciar as atrocidades de guerra entre outras coisas. Mas é importante evidenciar que os jornalistas trabalham para grandes corporações e por mais que estes estejam querendo levar os fatos para o público, seus empregadores muitas das vezes têm seus próprios objetivos. Mas o papel da “imprensa de confiança” é de extrema importância para a população, como é demonstrado no longa.

    Guerra Civil, provavelmente, deixará o público bem dividido. Muitos provavelmente não saíram satisfeitos da sala de cinema e outros saíram amando o longa e querendo muito mais. De qualquer forma, o filme protagonizado por Wagner Moura, será um sucesso, mas registro aqui:  A experiência de assistir ao filme em uma sala “Delux ou IMAX”  vai melhorar a experiência e a imersão no filme.

 

Nota: 10/10