Isaac Asimov, o "pai dos robôs" na ficção científica, sempre foi crítico em relação à forma como os autores do gênero abordavam os autômatos. A famosa "Síndrome de Frankenstein", onde "o homem cria o robô e o robô mata o homem", era um clichê recorrente. Foi nesse contexto que Asimov criou as Três Leis da Robótica, com o intuito de combater esse estereótipo, como ele próprio mencionava, da criatura que mata o criador.
No entanto, o autor de Eu, Robô deixou de lado, em sua defesa, as intenções não dos "corações" dos autômatos, mas sim dos proprietários das empresas que os produzem. Na última quinta-feira (10), a Tesla, empresa de Elon Musk, apresentou sua visão do “futuro”, no evento "We, Robot" com o lançamento do "Cybercab", um táxi-robô, e do "Robovan", ambos com um design típico de filmes de ficção científica.
O destaque da noite, sem sombra de dúvidas, foi a apresentação de "Optimus", o robô da Tesla. Assim como a U.S. Robots and Mechanical Men Inc., dos livros de Asimov, que produziu os primeiros robôs positrônicos domésticos, a empresa de Musk apresentou seu robô, que será capaz de realizar inúmeras tarefas domésticas e atuar como seu equivalente ficcional, Robbie, como babá, além de ir além, assumindo papéis como professor e até mesmo um companheiro para conversas. Parece que o futuro idealizado por Asimov em seus contos finalmente chegou, embora incompleto a princípio.
As Três Leis da Robótica, criadas por Asimov, servem como salvaguarda para evitar que seus autômatos caiam na armadilha da "Síndrome de Frankenstein". Porém, a ficção não é como a vida real, e Asimov, assim como a psico-história de Hari Seldon, não previu — ou não quis prever — homens como Musk.
Aquilo que alguns veem como um caminho para o futuro deve, na verdade, ser encarado com desconfiança. Musk é um bilionário com muito poder e está moldando o mundo, ou pelo menos o Ocidente, a seu modo. Em diversos de seus negócios, o empresário foi investigado por más condições de trabalho em suas empresas, além de usar o Twitter para manipular eleições. Em 2020, chegou a afirmar: “Vamos dar golpe em quem quisermos”.
O "Optimus" e qualquer tecnologia associada ao nome de Musk não são confiáveis e devem ser vistas não como progresso ou o futuro, mas com cautela e precaução. Recentemente, uma matéria da Reuters noticiou que a SpaceX está construindo uma rede de satélites espiões para a agência de inteligência dos EUA.
O que Musk está fazendo é inserir um espião físico nos
espaços sem nenhuma salvaguarda para impedir que esses autômatos se voltem
contra seus usuários. Não como em um filme de ficção científica onde tomam o
mundo, mas, sim, servindo a um propósito bem mais calculado e inquietante.
Nos resta saber onde esse futuro que Musk quer construir vai
acabar. Sabemos que ele não é o único desenvolvendo essa tecnologia, e que, na
verdade, não serão os robôs que dominarão o mundo, mas sim aqueles que
controlam suas e nossas “cordas”