Se existe uma constante no universo dos games, além dos bugs de lançamento e das microtransações, é a certeza de que a Nintendo vai processar alguém. A gigante japonesa, criadora de mundos mágicos e personagens icônicos que marcaram gerações, também é famosa por ter um departamento jurídico mais ativo que o Link em busca de rupees. Seja um fã dedicado que ousa recriar um jogo amado com gráficos melhores, um projeto de homenagem sem fins lucrativos ou até mesmo, pasmem, um carrinho de kart temático pelas ruas de Tóquio, a Big N parece ter um C&D (Cease and Desist) engatilhado para cada pixel fora do lugar.
A lista de “vítimas” é longa e variada. Temos o caso emblemático do AM2R (Another Metroid 2 Remake), um projeto feito por um fã apaixonado que reimaginava o clássico Metroid II. O resultado era incrível, aclamado pela comunidade, mas a Nintendo não quis saber de festa e mandou derrubar tudo mais rápido que o Mario descendo por um cano. Outro exemplo? Aquele fã que, na mais pura nostalgia, recriou Super Mario 64 em alta definição. Lindo, maravilhoso, um sonho para muitos... até a notificação da Nintendo chegar. E não podemos esquecer do ambicioso Pokémon Uranium, que introduziu uma nova região e mais de 150 monstrinhos criados por fãs. Adivinha? Processo na certa.
Esses são apenas alguns exemplos que ilustram a mão de ferro da Nintendo. A empresa não costuma aliviar, mesmo quando se trata de projetos feitos por amor à arte, sem intenção de lucro. A mensagem é clara: mexeu com a propriedade intelectual deles, prepare-se para enfrentar os advogados. Até empresas maiores sentiram o peso da Big N, como a Universal Studios nos anos 80 (que perdeu ao tentar processar a Nintendo por causa do Donkey Kong, alegando plágio de King Kong) ou, mais recentemente, a empresa de aluguel de karts MariCar no Japão, que teve que mudar de nome e parar de usar fantasias inspiradas nos personagens da Nintendo após uma longa batalha judicial.
Diante desse histórico, a máxima popular “os humilhados serão exaltados” parecia apenas uma frase de efeito distante para quem ousasse cruzar o caminho da Nintendo. Afinal, enfrentar um gigante corporativo com recursos quase infinitos parecia uma batalha perdida. Mas eis que, como um verdadeiro plot twist digno do nome deste site, surge um herói improvável, não dos reinos de Hyrule ou do Mushroom Kingdom, mas de uma cidadezinha na Costa Rica.
Conheçam o Super Mario de San Ramón, um supermercado local, cujo nome, segundo o proprietário José Mario Alfaro González, é uma homenagem a si mesmo e ao pai, também Mario. Na Costa Rica, é comum usar o prefixo “Super” como abreviação para supermercado. Ou seja, “Super Mario” era apenas... o supermercado do Mario. Simples assim. Só que não para a Nintendo.
Quando o Sr. Alfaro decidiu registrar formalmente o nome do seu estabelecimento, a Nintendo of America entrou em cena, contestando o registro. A alegação? A Big N já possuía a marca “Super Mario” registrada em diversas categorias (jogos, roupas, brinquedos, etc.) e o nome do supermercado poderia causar confusão. Parecia o roteiro de sempre: mais um pequeno negócio prestes a ser esmagado pelo rolo compressor jurídico da gigante dos games.
Mas, como em uma boa história de Davi contra Golias, o pequeno supermercado decidiu lutar. O representante legal do Sr. Alfaro, Edgardo Jiménez, admitiu que chegaram a cogitar mudar o nome para evitar a briga, cientes do poderio da Nintendo. Contudo, eles persistiram. O argumento central era que o registro do supermercado se aplicava à classe internacional 35, específica para “serviços de fornecimento para terceiros de produtos da cesta básica”. E adivinhem? A Nintendo, apesar de ter a marca registrada em 45 categorias diferentes, não tinha cobertura justamente nessa classe.
Em janeiro de 2025, o Registro Nacional da Costa Rica deu o veredito final: vitória para o Super Mario de San Ramón! A Nintendo perdeu a disputa. O pequeno supermercado costarriquenho conseguiu o que parecia impossível: vencer a Big N em seu próprio jogo de marcas registradas. Foi um verdadeiro “Game Over” para a gigante japonesa nesse caso específico.
Essa vitória inesperada serve como um pequeno, mas delicioso, ato de vingança para todos os fãs e pequenos criadores que já se sentiram injustiçados pela postura rigorosa da Nintendo. É um lembrete de que, mesmo na era das megacorporações, às vezes, só às vezes, o pequeno pode vencer. E, quem sabe, talvez o Sr. Alfaro devesse considerar vender cogumelos e estrelas douradas em promoção na próxima semana. Afinal, ele provou que tem o power-up necessário para enfrentar qualquer desafio!