Lúcio Flávio, O Passageiro da Agonia | não é necessário para ser cinéfilo

 


    O cinema nacional sofre de um estigma. Muitos o consideram ruim, e não há discussão sobre isso – é o que a maioria dos brasileiros pensa sobre os filmes produzidos no país. Não existem "clássicos" nem obras consideradas obrigatórias. Não é surpreendente se você nunca assistiu a "Pixote"; ninguém o considera um requisito para ser um cinéfilo.

 


    Acabei de assistir “Lúcio Flávio, O Passageiro da Agonia”, filme do diretor Hector Babenco, baseado no livro homônimo de José Louzeiro. Lá para o final do filme, "132" (Milton Gonçalves) fala para Lúcio Flávio (Reginaldo Faria) a seguinte sentença: “Hoje, tu vendes jornal e a manchete, mas amanhã, já te esqueceram”.


    O personagem vivido por Milton Gonçalves não está errado. Não apenas,  o famoso bandido “Lúcio Flávio” foi esquecido, como o longa que retrata sua vida também. “Lúcio Flávio, O Passageiro da Agonia” deveria ser de conhecimento dos brasileiros, não apenas como obra fílmica, mas como lição de que durante a Ditadura Militar, um assaltante de bancos causava terror na cidade do Rio de Janeiro e outros Estados do país, em pleno governo militar. Tudo porque tinha guarita da polícia, mais especificamente, do “Esquadrão Da Morte”, grupo paralelo da polícia muito referenciado pela cultura popular por matar bandidos.

    Na trama, somos apresentados a “Lúcio Flávio”, famoso assaltante que colecionava 32 fugas além de assaltos a bancos. Tudo isso era possível, graças à sua ligação com policiais. Lúcio realizava serviços para um famoso policial  e  sempre que o bandido era pego, dava um jeito de libertá-lo.

 


    Babenco apresenta uma trama ágil, onde cenários falsos não existem, o que possibilita ter uma ideia de como era o Rio de Janeiro no passado, dando um ar quase documental para o longa. O que chama a atenção no filme é o elenco diversificado. Encontramos um Brasil com cara de Brasil na obra do diretor. Outro ponto que chama a atenção são os devaneios que Lúcio Flávio tem. São premonitórios e enganam o público que não espera por eles. O que é interessante é que esses sonhos que Lúcio Flávio tem, são sempre piores que a realidade que o espera.

 


    Durante a trama fica evidenciado muito bem que muitos assaltos não eram de autoria de Lúcio Flávio e seu bando e que o bandido acabava servindo como “boi de piranha” para outros crimes que eram deflagrados pela cidade e pelo país. A imprensa sensacionalista também se aproveitava do assaltante para ganhar audiência e vender jornais. Todos lucravam com bandido.

 


    A história de Lúcio Flávio deveria ter passado por uma revisitação na produção fílmica nacional, não para substituir a obra de Babenco, pelo contrário, para manter a história do assaltante na memória nacional, não para exaltá-lo, mas para lembrarmos que a corrupção da polícia sempre esteve ai. 



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