
A documentarista Eliza Capai começou a filmar sua gravidez durante a pandemia sem ter um projeto específico em mente, fazendo mais por exercício criativo enquanto estávamos todos vivendo em isolamento social.
Até que descobriu que o bebê que esperava era “incompatível com a vida”, termo médico para malformação congênita de um feto que não sobreviverá após o parto, ou mesmo ao término da gestação.
Assim, a diretoria decidiu contar sua própria história e de outras mulheres que passaram por experiências semelhantes para tratar do tabu que é falar sobre a morte, principalmente quando ainda se trata de um feto ainda do ventre da mãe. E, também, trazendo à tona o debate sobre a necessidade de repensar os direitos reprodutivos das mulheres.
No Brasil, a interrupção da gravidez só é permitida em casos decorrentes de estupro, risco à vida da gestante ou anencefalia do feto. Sendo que a autorização judicial, é apenas uma etapa de todo um calvário a ser vencido.
Quanto mais demorado é o processo, mais o feto crescerá, aumentando os riscos à integridade física e psicológica da mãe e dos envolvidos. Isso em um país onde uma mulher morre a cada 2 dias por aborto inseguro.
Um ponto que chama bastante atenção no documentário são os testemunhos da participante que tem destacadamente a pior condição socioeconômica. Ela tem as declarações mais duras e fatalistas sobre o que aconteceu consigo e foi quem, entre outras dificuldades, teve a jornada mais solitária de todas.
“Incompatível Com a Vida”, portanto, é uma sessão de compartilhamento de experiências doloridas que suscita um debate que precisa avançar em nossa sociedade.
“Incompatível Com a Vida” está em exibição nos cinemas.